Pesquisa sobre assédio é termômetro da realidade de servidoras

A Assessoria Especial de Politicas Públicas da Mulher de São Vicente criou uma pesquisa para levantar informações e fomentar o debate sobre assédio no ambiente de trabalho — exclusiva para as servidoras públicas municipais. Como destacada em publicações anteriores, a luta em defesa de legislação de combate ao assédio moral é uma das prioridades do SindServSV na Campanha Salarial 2021. Por isso, diante da relevância do tema para a categoria, a Comunicação do Sindicato entrevistou Hanna Pereira, assessora especial de políticas públicas da mulher, sobre esta iniciativa, as motivações, os objetivos e como o Sindicato pode contribuir.

A coleta de informações é realizada por meio de formulário online. “Quando a pessoa abre o formulário aparece a opção em que afirma se é ou não mulher. Se clica em ‘não’ é direcionado para o final do formulário, que está programado para isso. Além disso, a gente conta com a honestidade das pessoas para mantermos o sigilo e conseguirmos coletar informações que sirvam de termômetro sobre o assédio no funcionalismo”, afirmou. Confira:

Do que se trata a pesquisa e de onde surgiu a ideia?

A ideia veio justamente de uma deficiência de coletar dados passados aqui na própria Prefeitura. Desde quando assumimos, a gente está visitando as pessoas e equipamentos, e muito do que a gente encontra é o desabafo por conta da dimensão do assédio, tipo de violência sofrida durante muitos anos. No entanto, uma coisa é ter as falas e outra é ter os números para conseguir caminhar.

A assessoria especial da mulher está dedicada a trabalhar com política pública para a garantia dos direitos da mulher. Nada mais justo do que olhar primeiro para as mulheres do serviço público — universo de pouco mais de 70% de mulheres. Então fomos atrás de dados em algumas secretarias para entender para saber se houve denúncias e processos sobre assédio moral, sexual ou psicológico. Mas recebemos informações insuficientes para se obter um diagnóstico próximo da realidade.

Não tenho a ilusão de acreditar que este formulário vai trazer um diagnóstico preciso, mas ele é mais um passo neste sentido. Então, ele medirá essa temperatura: por exemplo, quantas pessoas não levaram o processo em diante, quantas não denunciaram e por quais motivos. Servidoras que sofreram assédio, mas não denunciaram, e por quê?

Quais serão os desdobramentos?

Pretendemos ofertar um fluxo de denúncias mais eficiente. Nosso trabalho vai desaguar, em março, na concretização de um canal de denúncias para essas mulheres. Outro desdobramento será a elaboração de um manual de combate ao assédio no Serviço Público. Baseando-se nas informações coletadas, buscamos entender se as servidoras sabem quais são as atitudes relacionadas ao assédio moral ou sexual. Desta forma, conseguiremos estruturar um manual específico para São Vicente, conforme o nível de conhecimento das servidoras..

Essas iniciativas são apoiadas pelo secretariado e prefeito?

Sem dúvida. Desde o início, quando apresentamos a proposta, o prefeito foi solícito e deu autonomia para trabalharmos. O secretariado também tem apoiado, não colocando nenhuma resistência para levantar informações nem tirar dúvidas.

Vale lembrar que foi compromisso de campanha…

Sim, dentro do plano de governo, uma das propostas foi dar uma melhor qualidade nas condições de trabalho para o servidor público. Neste sentido, precisamos olhar para as violências. Essa é uma forma de tornar os espaços de trabalho mais seguros, caminhando no sentido de instituir uma legislação adequada. Ou seja, queremos fazer outras mudanças, para que, por exemplo, o canal de denúncias realmente seja eficiente nesta gestão e nas próximas.

Na sua opinião, qual seria o papel do Sindicato neste contexto?

O primeiro passo é haver um bom diálogo. Nós precisamos, por exemplo, trabalhar a orientação com os servidores, entendendo que é começo de gestão, em que algumas mudanças serão gradativas. Mas, em algum momento, realizaremos campanha de conscientização e combate ao assédio, e precisaremos de apoio para alcançarmos a todo o funcionalismo público municipal.

O Sindicato pode contribuir nesta conscientização?

Sim, é fundamental o apoio do Sindicato para difundir a informação. Nós já sabemos que várias mulheres não responderão a pesquisa porque duvidam da credibilidade de quem tratará das informações. Mas precisamos sensibilizá-las ao fato de que realmente é um formuário sigiloso. Não pede nome nem setor. Na conclusão, se a servidora não quiser deixar relato para que não a associem, tudo bem, não é obrigatório. Ela pode responder só aquilo que cabe a ela. Pensamos muito para não constranger nenhuma mulher. Mas seria importante que o máximo de mulheres respondesse para que tenham um diagnóstico melhor sobre o cenário.

Por fim, gostaria de ressaltar algo?

O formulário permanecerá aberto até segunda-feira (15/02) às 18h. Originalmente, o prazo seria até quarta passada, mas estendemos para sexta e agora para segunda que vem para que haja maior divulgação e mais acesso. Além disso, cabe ressaltar que, para quem registrar relato de violência sofrida, é pedido autorização para que um trecho seja utilizado no Manual de Combate ao Assédio, obviamente, de forma anônima.

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A pesquisa pode ser acessada neste link:
https://forms.gle/XxymkTBNCdj53sbF9

Sindicato apoia medidas

A diretora de Assuntos Femininos do SindServSV, Sandra Aparecida Vieira Conrado de Souza, considera que estas iniciativas mencionadas pela assessora especial de Politicas Públicas da Mulher, Hanna Pereira, são passos fundamentais na construção de medidas efetivas de combate ao assédio no serviço público municipal e São Vicente. “Nosso Sindicato está aberto ao diálogo e pronto para apoiar ações que favoreçam esta pauta, que é uma das nossas prioridades”, afirma.