Edson Paixão: Quando iremos parar de destruir o meio ambiente?

Ao refletir sobre os desafios da preservação ambiental, fui remetido a algumas divagações sobre a natureza da nossa sociedade humana e de boa parte da “classe” política . “Como a humanidade é resistente a mudanças, mesmo que seja para melhorar”. “Como são hipócritas e venais, quando os assuntos tratam de interesses pessoais. “Como esquecem facilmente os conceitos técnicos ambientais, mesmo que em prejuízo da Mãe-Natureza, quando se está envolvido de alguma forma em projetos técnicos e financeiros”.

Venho formando estas opiniões ao longo das últimas décadas, e hoje constatamos que elas seguem atuais, em meio aos desmandos do atual Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que, ao contrário do que seu posto exige, age para “passar a boiada” da destruição dos nossos recursos naturais por meio de um modelo econômico predatório e excludente.

Fiquei por algum tempo preso a estes pensamentos e me lembrei de uma luta que venho travando desde meados dos anos noventa, quanto a destinação final dos RSDU – Resíduos Sólidos Domésticos Urbanos, então, flutuou em minha memória, os inúmeros testes laboratoriais, as consultas técnicas, práticas e teóricas, as viagens para conhecer novas oportunidades de tratar a questão dos RSDU, com o propósito de se atingir processos tecnológicos que visem libertar em definitivo o meio ambiente das agressões físicas e químicas do lixo urbano. E em contrapartida, gerar divisas para o município, emprego para a comunidade e qualidade de vida melhor aos concidadãos.

Já se vão quase trinta anos e ainda me deparo com profissionais sem escrúpulos que defendem algo que não conhecem com profundidade ou, talvez, aquilo que lhe trará maior lucro financeiro pessoal ou dividendos políticos. Também é difícil fazer com que, quem tem o poder da decisão, ao menos pare a fim de verificar, analisar e entender os novos procedimentos realmente de ponta, ou melhor, comprovadamente de ponta e a custos mais viáveis economicamente.

Chego a pensar que nós atingimos o momento em que se multiplicam os discursos de valorização do desenvolvimento sustentável, mas os nossos representantes políticos ainda não fazem o que podem nem o que devem, “suas ideias não correspondem aos fatos”, como diria Cazuza. Aliás, eles têm dificuldade de sustentarem suas ideias em seus intelectos (se é que tenham), porque não são capazes de investir em procedimentos tecnológicos atuais economicamente viáveis, ecologicamente suportados, com impactos ambientais tendendo a zero. Vale dizer: novas fontes de energia renovável gerariam também benefícios indiretos como a ampliação e aperfeiçoamento do saneamento ambiental e o incremento ao turismo, que se espraiaria em desenvolvimento econômico e social para a cidade.

Esta reflexão resgata a lembrança de, quando recebi – há mais de duas décadas – visitantes ilustres da capital de uma cidade brasileira, que me cobraram as razões de a nossa São Vicente, a Primeira Cidade do Brasil, ser “também tão suja”. Infelizmente não pude e, ainda hoje, em 2021, nem posso contestá-los, porque, como se diz no jargão jurídico: “contra fatos não há argumentos”.

Com estes pensamentos girando na minha mente, fui instado a fazer uma viagem à infância e adolescência, quando eu assistia na televisão o “Senhor Sugismundo”, que emporcalhava a sua casa, as vias por onde passava, a cidade, o seu entorno, sendo então recriminado e cobrado por aqueles que gostam do meio ambiente bem cuidado e preservado. Era um programa de TV voltado ao conhecimento da educação ambiental e dos procedimentos para se viver bem em comunidade. Naqueles anos aprendíamos muito, principalmente a não sujar nosso planeta e a buscar processos tecnológicos evolutivos e cada vez mais sustentável.

Por fim, deixo as seguintes perguntas: quando vamos sair da contramão da história e da rota de degradação do Planeta? Quando vamos colocar a humanidade no caminho da evolução e da superação do individualismo e da construção de uma vida melhor para todos nós – seres habitantes da Mãe-Terra?

Edson Paixão, presidente do SindServSV