Consciência Negra: cultura e memória contra o racismo

Na segunda-feira (22), as diretoras Cleide Ferreira e Cleunice Campos prestigiaram a abertura da exposição, no Paço Municipal, com obras de arte do acervo permanente da ‘Casa da Cultura Afro-brasileira – Memorial ao Escravizado’. O evento foi reservado a autoridades e convidados, mas, entre terça (23) e sexta-feira (25), a mostra esteve aberta à visitação pública, no Paço Municipal.

Segundo a divulgação oficial, a mostra foi composta por 20 peças em argila do artista plástico e escultor Geraldo Albertini, com o objetivo de “exaltar a influência da cultura negra nas artes, em comemoração ao mês da Consciência Negra”. Houve, ainda, um desfile com pessoas representativas da cultura afro-brasileira no Município.

“A semana da consciência negra não é só para lembrar dos negros, e sim um momento de reflexão para entender o porquê da existência deste espaço no calendário”, opina Cleide Ferreira.

“A cor da nossa pele não nos faz pior do que ninguém. O preconceito racial nada mais é do que pura ignorância, temos que entender que todos nós devemos ser iguais em direitos e oportunidades”, acrescenta.

Casa da Cultura Afro-brasileira

Entretanto, a divulgação oficial da Prefeitura erra quando se refere ao local pelo antigo nome: Museu do Escravo ou dos Escravos. Nome alterado desde a reinauguração do local, em janeiro de 2015, quando passou a ser chamado de Casa da Cultura Afro-Brasileira – Memorial ao Escravizado. O atual nome foi escolhido pelas representações da Comunidade Negra de São Vicente. O memorial se encontrava em processo de reativação e revitalização, então sob a responsabilidade da Secretaria de Cultura.

Segundo o São Vicente Portal, o lugar abriga atividades relacionadas à promoção da igualdade racial junto a entidades artísticas, movimentos sociais e religiões de matrizes africanas, além do acervo permanente do idealizador, o próprio artista Geraldo Albertini (já falecido).

“A exposição nos faz refletir sobre o sofrimento dos nossos antepassados. Eu ainda ouço de algumas pessoas dizendo que falar sobre isso é ‘mi-mi-mi’. Não é. Isso é resgatar nossa memória para alimentar a luta por nossos direitos”, afirma Cleunice. Essa história pode ser vista no acervo da Casa da Cultura Afro-brasileira.

Segundo Cleunice, a homenagem ao servidor Ubirajara Ferreira simboliza a importância do povo negro, também, no serviço público. “Foi uma merecida homenagem pelos seus 28 anos de serviços prestados à população vicentina. Me senti representada. Ser uma mulher negra e servidora é motivo de orgulho”, diz.

Já Cleide lamenta que o preconceito e o racismo ainda imperam com força na sociedade. “Isso é fruto de séculos de escravidão no Brasil e do racismo estrutural que permanece. Cabe a nós mudar esse quadro, com respeito, educação e dignidade”, defende.

Arte e história do Brasil

As obras de arte de Albertini e artistas influenciados por ele (Irineu Beck e Ademir dos Santos) recontam a história dos povos escravizados no Brasil, desde o início da colonização até a Lei Áurea. A Casa da Cultura Afro-Brasileira – Memorial ao Escravizado é localizada dentro do Parque Ecológico Votoruá (Horto Municipal).

Criada em 13 de maio de 1976, construída pelo próprio Albertini, a Casa faz referência à arquitetura mineira do Brasil-Colônia, com paredes de taipa ou pau-a-pique (feita com barro ou argila pressionado por pedaços ou varas de madeiras em formato de grade) e imagens em relevo da história da população negra no País.